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Autoria | António Manuel Dinis Moura
Criado em | . 2014
Estilo poético | Prosa
A noite percorrendo o seu vasto, esplêndido e milenar itinerário,
liturgia exuberante do cosmos, e a minha avó,
no interior da sua pequenina casa, deitada na sua pequena cama,
segurando nas mãos um confidente, aficionado e puído terço,
reza devotamente a Deus e pede-lhe por todos os seus.
Com as suas pequenas mãos, duas pequenas rosas, santas,
a minha avó, clareira de fé, pega no terço com a mesma ternura
com que tantas vezes ao colo pegou as filhas, os netos e as vidas deles,
e roga, reza, celebra caminhos inexplicáveis, insondáveis.
Beija o crucifixo. O céu benze-se, ajoelha-se. Acendidas, as palavras ascendem.
Minha admiração perante estes actos sagrados.
No interior do seu pequeno quarto, rodeada de uma missa de silêncios,
a minha avó, comungando uma luz impercetível,
murmureja, como a alma das capelas, pai-nossos, ave-marias, glórias
e pede a Deus que zele por todos os seus e guarde a alma dos que já partiram.
Nada pede para si. Nada.
Que grandeza incomensurável.
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