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Autoria | Maria Eugénia Gonçalves de Moura (Gomes)
Criado em | .
Estilo poético | Quintilhas
I
Recordar o passado
É viver o presente.
Sentir como reais
As sensações emocionais
Que nos fizeram gente.
II
As montanhas de hoje
São na verdade iguais
Às que nos anos 50
Rodeavam a nossa terra,
Uma estrela da serra.
III
Acumula-se nelas o mato
Qu´agora não vão cortar.
As cordas e os podões
Pertencem a gerações
Qu´envelheceram a trabalhar.
IV
As mulheres daquela época
Casavam para procriar.
Era uma alegria, um presente
Ver ruas cheias de gente,
Crianças sempre a brincar.
V
Tanta gente a nascer!
Nenhum com hora marcada.
Com grande dedicação
A Constança lá acorria
Para cortar o cordão.
VI
Nos registos de baptismo
Vemos com grande emoção
Os elevados números
De bebés recém-nascidos
Que à igreja eram trazidos.
VII
Uma educação religiosa
Pelo Padre Prata orientada.
A primeira comunhão,
As novenas, o mês de Maria
Tudo fazíamos com alegria.
VIII
Tocava o sino de mansinho
Era a hora de parar.
As Ave-Marias ao meio-dia
À tarde, voltava a tocar
Unindo todos no mesmo orar.
IX
O sino todos chamava
Tocava para a doutrina
Ninguém se podia esquecer.
De catecismo na mão
Todos queriam aprender.
X
Se o sino tocava a rebate
Juntava a população.
Todos juntos ajudavam
Nesta hora de aflição
Com baldes de mão em mão.
XI
A escola estava dividida
Um professor para os rapazes.
Uma professora para meninas.
Nada se podia misturar,
Era importante aprender e trabalhar.
XII
Toda a criança brincava
Puxando pela imaginação.
A camioneta de cordas,
O Azeite dos cachilros
Rebolos de mão em mão.
XIII
Bonecas de trapo e papelão,
De casquilho com olhos de mexer.
Os saltos ao pula uma
Tábua nas carretas a deslizar
O rodízio no gancho a rodar.
XIV
As piscinas naturais,
No Zé Lages, na Curilha.
Mergulhos fenomenais!
Toda a criança aprendia
Mesmo fugindo aos pais.
XV
Carquejas e mais floridas
Maio estava a anunciar.
As crianças divertiam-se
A ver os grilos espreitar
P´ra na caixa de fósforos guardar.
XVI
Tocava ao mês de Maria
Ninguém podia faltar
Era uma grande melodia.
Com muito fervor cantavam
E os grilos participavam.
XVII
O Grupo, Socorro, Sindicato
Lugares de reunião.
Muitos iam até lá
Para ver televisão,
Um luxo da ocasião.
XVIII
Nas levadas e ribeiras
Ia correndo o sabão.
Nas pedras arredondadas
As roupas eram coradas
Bem batidas com a mão.
XIX
O giro da água passava
Rego abaixo a correr.
Toda a pequenada vivia
A compensada alegria
Do barco de corcódoa fazer.
XX
A água fonte da vida
Os campos ia regar.
Um cheiro nauseabundo
Um eléctrico passava
Sem se fazer anunciar.
XXI
Das fontes a água brotava
Fresca e cristalina.
Para a poder transportar
O cântaro e a rodilha
Era preciso utilizar.
XXII
Os campos todos lavrados
Não tardavam a verdejar.
Espigas de milho assadas.
Outras eram desbulhadas
Postas na eira a secar.
XXIII
O milho no caroleiro
Partido bem partidinho
Está pronto a escolher,
E com leite a fazer
O famoso carolinho.
XXIV
A tia Adelina moía
No seu moinho o grão
Vamos buscar a taleiga,
Peneirar bem a farinha
Para transformar em pão.
XXV
Batia o padeiro à porta
Pão branco e fresquinho
Por todos era apreciado.
Um cruzado por um pão
Com pano branco tapado.
XXVI
Nos fornos comunitários
A lenha a crepitar.
Amassa o pão meado,
Pão de milho levedado
Vai agora a bailar.
XXVII
Belisco e buraco são sinais
A massa da levedura
Guardada na tijelinha.
Um bolo com uma folha
Bola de bacalhau, ou sardinha.
XXVIII
Vacas leiteiras abundavam
O leite fresco a chegar.
Um quartilho, uma canada
Medida generalizada
A nata vai manteiga formar.
XXIX
A indústria era forte
Tanta gente a trabalhar!
Quando a buzina tocava
O operário regressava
Era hora de descansar.
XXX
Peças e peças estendidas
Grandes meadas na mão.
As râmolas bem coloridas
Mostravam a toda a gente
O trabalho do tecelão.
XXXI
No torno s´amola o aço
Na forja o ferro aquece.
Torneiros e serralheiros
Ma metalúrgica Vaz Leal
Produziam p´ró mercado nacional.
XXXII
Teciam-se peças de malha
De merino ou angorá.
Não era preciso publicidade
O nome de Loriga
Era sinal de qualidade.
XXXIII
Dr. Andrade, Dr Mineiro
Médicos permanentes
Cuidavam bem as maleitas
Bexigas, lombrigas, trasorelho,
Pneumonias frequentes.
XXXIX
Os Invernos tão rigorosos
O frio, neve, gelo, pingente.
As brasas reacendidas
Pelas braseiras repartidas
Aqueciam toda a gente.
XXXV
Nos pés frios e delicados
Botas grossas de carneira
Com sebo d´olanda untadas.
Os tamancos de madeira
Com brochas bem marteladas.
XXXVI
Vamos à limpeza geral
A Páscoa está a chegar.
Os balcões bem roçados
Os cantos escarolados
Para a visita preparar.
XXXVII
Nos fornos tudo se agita
Alguidares, colheres e latas.
Bate o pão-de-ló, bolo negro
As broinhas de cagote
Anda tudo num virote.
XXXVIII
Tocava o sino com qu´a dizer:
Andai, andai, andai
Qu´o padre já lá vai.
Era a hora da cruz beijar
Amigos e parentes visitar.
XXXIX
Cozinheiras afamadas
De paladar apurado
Faziam festas pontuais.
Casamentos, baptizados
Como autênticas profissionais.
XL
A fogueira bem acesa
A Laurinda, Adélia, dos Anjos
Mexiam as caldeiras
O arroz-doce a fumegar
Para com canela decorar.
XLI
Grupo de jovens amadores
Preparavam com dedicação
Rapsódias, peças de teatro,
As melodias de sempre
Aliciando o povo à distracção.
XLII
A escola unificou
E nós pudemos usufruir.
A escola pela televisão
Conseguiu levar mais além
Os da nossa geração.
XLIII
A banda filarmónica
Nosso ex-libris cultural
Clarinetes e trombones
Continuamos a ouvir
Seus sons repercutir.
XLIV
As loas à Senhora da Guia
Já ecoavam no ar.
Cantavam ao desafio
Enquanto se ocupavam
Das lides a realizar.
XLV
O dia da festa chegava
Grande fé e devoção.
Os beijinhos, as medalhas
Em açúcar confeccionados
Eram a nossa tentação.
XLVI
No largo do Santo António
O palco estava montado.
Estalejavam foguetes no ar,
As grandes Festas da Vila
Estavam prontas a começar.
XLVII
Ir até ao Portugal
Cantar serenatas ao luar
Era para todos um prazer.
Entre gargalhadas afinadas
Misturavam-se gargalhadas.
XLVIII
Juntavam-se na praça
No Cristóvão ou Zé Maria
Uns momentos bem passados,
Com um joguinho de bilhar
E um pirolito a finalizar.
XLIX
Se recordar é viver
Posso então afirmar.
No meu tempo de menina
Era tudo bem diferente
Do que é actualmente.
L
Esta Loriga qu´eu amo
Hoje está adormecida.
Loriguenses, despertai!
A nossa Terra não cai
Se todos lhe dermos vida
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